Biscoitinho de água e sal, puro, sem graça, repetitivo. Mata a fome da barriga vazia, cega e acostuma. Migalhas sobre a mesa, nunca limpa sempre cheia. Repetição de gergelim, sal ou leite. Diversas opções, sempre ao alcance do braço. Fácil fácil. Vez ou outra, vê em outra tudo que lhe poderia arrochar. Esquisito, sem sentido, tudo que lhe poderia estar. Mundo novo, decidiu tomar. Biscoitinho de água e sal, com geleia de maracujá.
Meu futuro, lhe vejo a todo instante. Meus olhares não bastam, porém não perco o suor nesse caminho constante. Sobrevoar o marasmo, entediado, sem realmente tocar o problema. Escrever enquanto finjo entender este dilema. Quem sabe entender um dia a presença do que jamais surgiu, ver por um tris um futuro esquisito. Andar e andar, sempre pelos mesmos passos. Inspirar e expirar sempre o mesmo vento. Cheiro de chuva e vento frio. Talvez eu devesse cancelar a carona, pegar um ônibus e convidar conversas estranhas.
Fora de foco, uma pulga atrás da orelha, uma palavra na ponta da língua, uma sensação iminente, porém que nunca estoura. De certo não há nada brilhante em perceber o óbvio, mas para quem vive cego, enxergar é uma catarse. O tempo passa rápido e a percepção nunca acompanha, seus olhos cansados após o crepúsculo é o único, ecoado, grito que se ouve na distância entre o Ser e a cidade. Falta de amor, falta de um terceiro, cai por terra a resposta fácil. Não há falta de terceiro quando não se conecta com seu segundo. Não há contato com a cidade, não há razão para si quando não se permite tocar nas extremidades. Não há, simplesmente, motivos para escrever quando se joga fora toda a experiência. Ignorar a vida nunca foi sobre ser eficiente, mas sim sobre ignorar a si.
O vapor da água sobe e o sol da manhã de sábado chega a iluminar o teto claro do meu banheiro. O canto dos bem-te-vis compõe uma belíssima melodia. Meu olhos são guiados pela fresta na janela do banheiro até uma construção.
Meu reflexo olha em meus olhos, parecendo um outro alguém. Tenho essa sensação de que se me vejo de longe acabo me distanciando de minha própria imagem. Como se fosse me desconhecendo a cada passo.
Todos esses momentos que vivi sozinho são ocos quando comparados aos que vivi com você. O momento parece não ser o mesmo a partir do ponto que eu não vejo a felicidade estampada em seu rosto.
Tenho a estranha sensação de estar sendo seguido
Movimento constante, se parou. Perdeu.
Massa amorfa solta no escuro e nunca mais vista, percorre as ruas abandonadas a espreita de sua próxima vítima. Tem sangue em seus pés, tem terror em seus olhos. Treme de ansiedade em pensar na liberdade.
Com muito prazer eu me despeço de você, mas por algum motivo minha palavra não tem peso quando meu coração tem você como desejo.